Análise de séries cronológicas de cheias extremas em rios ibéricos e sua relação com a variabilidade da Oscilação do Atlântico Norte (NAO)

Apresentação do projecto

Entre as principais conclusões do relatório do IPCC encontra-se a incerteza relativa à previsão de cheias extremas, em resposta ao aquecimento global. A escassez de registros instrumentais e a escassa fiabilidade dos modelos de circulação geral da atmosfera dificultam drasticamente a capacidade de efectuar projecções sobre a possível evolução futura de extremos hidrológicos. A actividade ciclónica invernal na Península pode ser explicada em parte por um número limitado de situações sinópticas que persistem durante dias ou mesmo semanas. Estas situações, relacionadas tanto com a advecção oeste-noroeste como a sudeste, são responsáveis pela maior parte da precipitação – e de inundações fluviais - em Espanha e Portugal. Nas últimas décadas têm sido realizados numerosos trabalhos sobre a importância do Índice de Oscilação do Atlântico Norte (NAO) como predictor da precipitação sobre a zona Oeste da Península Ibérica, e a sua ligação com o regime hidrológico dos grandes rios Atlânticos. De facto, as relações entre caudais mensais e o índice NAO mostram que a variabilidade interanual do caudal mensal dos grandes rios Atlânticos (Douro, Tejo e Guadiana) é fortemente controlada pelo fenómeno NAO. Estes estudos demostraram que a precipitação/fluxo tende a ser maior quando existe uma predominância do índice NAO negativo durante os meses de Inverno, apontando, por outro lado, para a plausibilidade da existência de uma tendência positiva no índice NAO durante as últimas décadas do século XX, o que poderia implicar uma redução significativa do fluxo destes rios, e um impacto negativo nas actividades agrícolas e na produção hidroeléctrica . No entanto, a existência de um índice negativo NAO durante os meses de Inverno não permite estabelecer uma relação directa e inequívoca na geração de cheias nos rios Atlânticos (Benito et al., 2004, 2005, 2008). Igualmente, verificou-se que a associação entre a circulação da NAO e o clima Europeu não é estacionária e, portanto, a relação entre variáveis climáticas e locais/regionais e o modo NAO tem mudado ao longo do tempo . A análise estatística de séries temporais longas referentes a cheias, obtidas a partir da combinação dos registos instrumentais, históricos e geológicos (paleocheias), pode fornecer indicações sobre o papel da NAO (passado e actual) na geração de cheias extraordinárias, melhorando a capacidade preditiva sobre a amplitude e frequência de grandes extremos hídricos, para distintos cenários de alterações climáticas desenhados em Trenberth et al., 2007. A presente proposta visa a análise da evolução temporal das relações entre o índice NAO e a geração de cheias nos principais rios Atlânticos Peninsulares durante o século XX, assim como os padrões de associação decadal e multidecadal durante os últimos séculos (dados históricos) e milénios (dados de paleocheias).No sentido de contribuir para a caracterização estatística das séries cronológicas empíricas, tanto hidrológicas (caudais e altura de cheia) como meteorológicas (precipitação e temperatura), propõe-se o ensaio de técnicas geoestatísticas espacio-temporais referentes a fenómenos extremos, em que a krigagem da indicatriz é o algoritmo preponderante. As séries climáticas – em especial a que resulta da Oscilação do Atlântico Norte (NAO) – vai ser investigada através de um método de regressão qualitativa baseada na Análise das Correspondências, o qual permite ainda detectar o desfasamento temporal entre os fenómenos metereológicos e as suas consequências.

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